terça-feira, 24 de julho de 2012

Leituras de férias

Foram muito pobres em quantidade, mas riquíssimas em qualidade. Três livros, três clássicos (na minha humilde opinião), em ordem de leitura.

O Aleph, Jorge Luis Borges - quis ler o livro todo porque, além de ser essencial e blablabla, tenho uma história relacionada ao primeiro conto, O Imortal. Quando estava no primeiro período da faculdade de Arquitetura, o professor de História da Arte nos mandou ler o conto e fazer uma maquete representando a cidade citada nele. Eu não sabia nem por onde começa uma maquete, ainda mais de uma cidade toda surreal, com escadas inversas, janelas inalcançáveis, corredores sem saída e um labirinto de pedras. Não me lembro muito bem das reuniões pra decidir o que fazer, mas acho que, para mostrar melhor os detalhes, resolvemos fazer a maquete numa escala grande, e ela ficou muito, mas muuuuito grande. Teve que ser levada na caçamba de uma camionete, e ganhou o delicado apelido de Maquetauro. No conto, o personagem classifica a arquitetura da cidade como interminável, atroz, completamente insensata; baseada nesta visão, creio que nossa Maquetauro cumpriu bem seu papel. Eu deveria ter me tocado ali que arquitetura, enquanto profissão, não ia me servir, mas né, e o medo de voltar pra Capi City e nunca mais sair? E como abandonar as deliciosas aulas de História da Arte? Enfim, voltando ao livro, além do primeiro conto, que eu adoro, amei "A casa de Astérion", surpreendente, "Emma Zunz", uma espécie de Nina/Rita, e o conto que dá título ao livro. Acho que ainda não sou a leitora super bem preparada para quem o Borges escreve, mas isso não me impediu de apreciar o livro.

o remorso de baltazar serapião, valter hugo mãe - O escritor que aboliu as letras maiúsculas me pegou de jeito neste livro, o segundo dele que leio. É fácil perceber a influência de Saramago pela oralidade que o marca a narração. Foi difícil ler, a história é quase tão chocante como "O ensaio sobre a cegueira". A saga da família sarga, tão azarada, e a misoginia absoluta que permite aos maridos arrancar pedaços do corpo de suas mulheres, mistura-se à uma linguagem que inclui neologismos Guimarães Rosa inspired (bjo, blogueiras de muóda!). Um nó na garganta, o reconhecimento triste de que o que houve de mais cruel na história poderia ter acontecido hoje, agora, neste mundo real. Ao contrário dos outros lutos literários, que exigem um tempo sem outro livro para serem processados, este me exigiu o recomeço imediato de outra história, para não sucumbir. Como quem precisa de um gole de cachaça após botar na boca o limão mais azedo. A cachaça escolhida foi uma novinha, premiada:

A visita Cruel do tempo, Jennifer Egan - Gen.te. (Ela disse Gente!!, diriam Fred, Dafne, Scooby e Salsicha). Não é a toa que deram o Pulitzer pra Jennifer Egan. Eu sabia que ia gostar, desde que li sobre o debate dela com o Ian McEwan na FLIP, e que ele foi todo elogios para ela. Mas não sabia que ia gostar tanto. Para contar a história da passagem do tempo na vida dos personagens, ela escreve vários contos entrelaçados, ora escritos em primeira pessoa, ora em terceira. E, sem querer babar muito o ovo, mas já babando, ela conseguiu escrever um em segunda pessoa, tsá? Tem um capítulo inteirinho escrito em Power Point. Tem muita música sendo citada (afinal, um dos personagens é um produtor musical responsável pelo lançamento de uma banda de rock de sucesso). E tem eu tentando pateticamente descrever um livro incrível. Não acreditem em mim. Acreditem nos jurados do Pulitzer, e principalmente no Ian McEwan, um escritor foda. Um livro delícia, cujo único defeito é ter só 336 páginas. Jennifer, amigam, vamos deixar a preguiça de lado e escrever umas 600 paginas? Liga pro George R. R. Martin e pede umas dicas, fazfavô?

E assim acaba meu período de recesso do Facebook. Ou não, que já encomendei uma toalha LINDA pra eu bordar. Como eu disse no post anterior, eu sei bordar. Já fazer maquetes, fica pra próxima encarnação. Pra próxima depois da que vem agora, assim que eu morrer. Porque em seguida quero ser rycah, não arquiteta, ok, produção?

PS - eu tenho imagens da saudosa Maquetauro, mas vou poupar minhas colegas, hoje arquitetas famosas, chiques e elegantes, de ver a derrota que foi nosso início de carreira. Que fique claro que a derrota delas foi só esse pequeno entrevero no início da carreira, hoje elas são só sucesso. Quanto a mim, a derrota do início é companheirona, do tipo BFF, tamu junto.

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