sábado, 14 de maio de 2011

O horror, o horror

Acabo de voltar de um evento anual que, gente, só de pensar que enfrentarei de novo ano que vem, já dá vontade de chorar. Nas duas longas horas de duração do dito cujo, fui obrigada a ver e ouvir coisas horríveis, daquelas que nos fazem ter vergonha de ser humano. Nesses momentos, quase compreendo porque o Ed Motta aredita que o ser humano é um projeto que deu errado demais...
Imagine um lugar onde ouvimos musicas insuportáveis e ensurdecedoras, pessoas correndo e gritando, mulheres vestidas como strippers e criaturas grossas e agressivas, ostensivamente se colocando em sua frente para que você não consiga ver o que há em frente. Imaginou um inferninho, não é? Rá, pegadinha do malandro! Errou redondamente, jovem e tolo leitor! Eu estava na escolinha do meu filho, num evento de homenagem ao dia das mães.
É o que, Creuza?? Tem stripper na escolinha?
Não, amiga leitora, não que eu saiba. Mas se o hábito faz o monge, sou obrigada a desconfiar que tem sim...
Esconjuro, Creuza! E como é que foi isso?
Amiga dona de casa, não foi fácil mas consegui escapar para contar à posteridade como, num esforço de superação, sobrevivi ao horror:
O sofrimento começa no mês de Maio, quando o calendário nos informa da aproximação do dia das mães. Toda mãe com filho em idade escolar sabe o terror que esta data prenuncia: a temida Homenagem às Mães, patrocinada pela escolinha do seu filho. Sim, este terrível acontecimento disfarçado de "festinha". Após alguns dias seu filho, inocente cúmplice do horror, traz o fatídico convite marcando data e hora para começar seu sofrimento. E ele não tarda...
Chega a data marcada. Você, jovem Creuza, se veste de acordo com o evento: um jeans confortável que não deixe eu cofrinho à mostra nas milhares de vezes que terá que se abaixar pra amarrar o cadarço do tênis da criança; um all star bem amarrado no pé, pra não deixar entrar areia nem brita que as crianças estarão espalhando por todo canto; um óculos escuro, pra esconder sua cara de ódio das crianças mimadas que dão escândalo por um dá cá essa palha. O pimpolho também é adequadamente vestido, de preferência de marrom, que é a cor com que ele estará vesido quando voltar pra casa, não importa com que cor ele foi. Mas nem todos tem o mesmo bom senso, como veremos adiante...
Ao adentrar no recinto, automaticamente somos atropelados por meia dúzia de demônios lindas criancinhas, que deixam para trás um rastro de areia e brita fina que entranha naquele 0,5mm de espaço entre seu all star e seu pé, obrigando você a ir ao banheiro pra sacudir o tênis e tirar a areia. Enquanto isso, seu diabinho adrável filho já encontrou mais 5 colegas e saiu aterrorizando os demais em busca de diversão. Graças ao seu óculos escuro, as outras mães não perceberam sua cara de ódio para as crianças, senão você teria sido linchada, mas realmente não sabemos se esta não teria sido uma opção menos sofrida que os acontecimentos posteriores...
Vamos em direção aos nossos lugares, para assistir às encantadoras homenagens. Obviamente, só conseguimos lugar na última fila, onde nos sentamos. No caminho, meus olhos são covardemente torturados com estampas de oncinha e botas pula-enchente (se você é forte, não tem medo de assombração nem de ficar cego, pode conhecer uma bota pula-enchente clicando aqui). Obviamente as outras mães devem ter vindo de outro lugar e não tiveram tempo de passar em casa pra se vestir adequadamente. Só isso explica o fato de tanta maquiagem, pulseiras, cabelos chapados, escarpin de salto fino, mega-bolsas, calças estilo "embalada a vácuo" e outras aberrações (posso mencionar especialmente uma pessoa com vestido curto de oncinha e bota de cano longo e salto stilleto... Deve ter vindo direto do pole-dance). Que amor de mães, não é mesmo? Vem direto do serviço pra ver a homenagem... Fico até comovida!
Após ocupar nossos assentos, começa a homenagem. E a primeira frase é "bla bla bla mães são como deus bla bla bla". Nessa hora, uma terrível náusea é sentida por você, Creuza atéia ou não, que prega a liberdade de crenças. É simplesmente IMPOSSÍVEL para as professoras de escolas infantis fazer um evento sem citar deus. TUDO é graças a deus, todos os agradecimentos são primeiramente a deus, tudo que é bom é vindo de deus, toda força foi deus que deu, todo amor é menor que o de deus... Enfim, as professoras amam deus. E você odeia as professoras. Odiaria deus também, se ele existisse.
E a homenagem prossegue. Começa a primeira apesentação. Um som horrível é ouvido por todos. Você olha ao redor, para ver se há algum açougueiro matando um porco, mas então descobre que os guinchos pavorosos vem do cd-player: é um cd da Eliana. Você tenta superar, mas o som é ensurdecedor, entra pelos seus ouvidos e martela na sua cabeça de forma incontrolável. Não há escapatória. As criancinhas no palco fazem gestos, deve ser  uma espécie de dança para afastar o efeito da música demoníaca, mas você não consegue enxergar, porque já entraram em cena as piores, mais pérfidas e assustadoras criaturas  que habitam o local: as mães-com-uma-câmera-fotográfica. Corram para as colinas! É impossível escapar da visão terrificante, pois as criaturas estão ali: de pé, em frente ao palco, formando uma imensa muralha em volta das pobres criancinhas, espocando seus flashes, impedindo todas as pessoas normais de assistir a homenagem. As mães-com-uma-câmera-fotográfica são capazes de tudo: pisotear você, acotovelar as avós que ousam querer assistir seus netos no palco, usar seu filho como escada... tudo isso para conseguir um bom ângulo. O diretor da escola solta uma bomba de gás lacrimogênio para afastar as criaturas, mas elas não saem: o máximo que ele consegue é que elas se abaixem um pouco, mas jamais recuam da posição em frente ao palco.
Desviando das temíveis criaturas você consegue, através de uma abertura de 0,8cm entre uma mãe embalada a vácuo e uma com mega-hair de 2 metros, assistir à apresentação, mas é apenas para ter outro choque: no palco, uma criança está aos berros, descontrolada, com um nítido pavor de se apresentar diante daquela ameaçadora muralha. Você se pergunta que tipo de professora obriga um bebê a passar por tal situação, mas então percebe que atrás da criança está ela, a segunda criatura mais pavorosa da festinha: a mãe-que-obriga-o-filho-a-dançar-no-palco. Pobre criança! Não pode correr pro colo da mãe pra esconder a cara em seus ombros e chorar: sua mãe se transformou numa horrenda criatura que a obriga a permanecer no palco, e o pior, parece gostar de ficar ali sendo fotografada junto com os bebês. Oh, meu deus, por que me obrigas a passar por tanto tormento?
Respiro fundo e continuo assistindo, e finalmente, na última apresentação do evento, seu filho aparece. Por breves 3 segundos, tempo exato que leva uma mão-com-uma-máquina-fotográfica para se levantar da cadeira e formar a terrível muralha em frente ao palco, você consegue ver seu lindo filhote! E sai feliz: 3 segundos foi uma marca excepcional, comparada ao ano passado, quando além de não ver a criança ainda teve uma costela deslocada pela cotovelada que levou ao se aproximar do palco. E viva o dia das mães!

Após o torturante evento, você se pergunta por que mesmo se dispõe a passar por esta terrível situação ano após ano, e então lembra: é mãe, está sendo homenageada.
Mas peraí, ser mãe não é tão lindo, tão sublime? E aquela história de padecer no paraíso?
Rá! Pegadinha do malandro! SERIA lindo e sublime, se seu filho não tivesse que estudar. Agora você sabe a verdade: o padecimento não é no paraíso, é na escolinha.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mundo mágico das loulous

Depois da morte do Osama estou mais crente do que nunca de que estamos na Matrix! Viva! Em breve o gringo distinto senhor francês chega pra colher as amostras de tecido pro DNA! Assim que o programador senior assumir, né, porque tenho cer-te-za que meu nascimento no Brasil foi obra de algum estagiário...

Mas enfim, já que Matrix é o assunto, vamos fazer um post em homenagem às loulous.
Mas o quéqui tem a ver as loulous coa Matrix, Creuza, tá doida?
Ora, ora, apressada leitora, vou explicar: as loulous são essas pessoas doidas de jogar pedra, sem noção, aporrinhando minha paciência desde 1979 incríveis que conhecemos, né? ... Posso falar de um tudo dessas criaturas, mas tenho que reconhecer: as loulous tem uma habilidade que não se encontra de baciada na feira: elas conseguem criar uma personal-matrix dentro da Matrix, veja você, abismada leitora!
Como assim, Bial?
Vou explicar, mas primeiro, vamos fazer um teste para avaliar seu potencial loulousístico:
1-Você usa sabonete palmolive porque é mais barato, e quando compra um caro da Natura guarda pra usar em uma ocasião especial?
2-Tem ou já teve o nome no SPC?
3-Ás vezes queima o arroz?
4-Sofre com bad hair day e acha o fim do mundo pagar 3 dígitos por um corte de cabelo?
5-Compra creme baratinho da Avon?
6-Briga com o marido?
7-Tem vontade de explodir o cérebro de algumas pessoas com o olhar?
8-Compra ou já comprou roupa no baratão?
9-Conhece maquiagem da MAC só de revista?
10-Custa a viajar, e quando vai fica em albergue, pra economizar?

Bem, amiga, se você respondeu sim a 5 ou mais perguntas, você não é loulou, você é Creuza mesmo, pode continuar lendo. Agora, se respondeu não à maioria das perguntas, vade-retro!!! Esconjuro! Volta pro mar, oferenda!!! E depois senta e chora, porque você é ou está no processo pra se tornar uma loulou. Nesse caso, favor se identificar nos comentários, para eu poder riscar seu nome da minha agenda pra sempre torcer para que você consiga inverter o processo.

Consegue perceber, cara amiga Creuza, o super-poder das loulou? As loulou usam sabonete da Natura todos os dias, se precisam de um mais baratinho, compram Dove; nunca, jamais, de forma alguma tiveram o nome no SPC, porque elas nuuunca ficaram desempregadas, imagine, profissionais tão competentes e requisitadas, desempregadas? O arroz delas é o mais soltinho e branquinho (mesmo que elas façam arroz integral, ele sempre fica branquinho, impressionante!); loulou nunca tem bad hair day e só corta/pinta os cabelos no Célio Faria (ou no salão mais chique e badalado da cidade). Loulou JAMAIS usa Avon, pode até usar alguma coisinha da Natura, mas se ganha alguma coisa da Avon, dá de presente pra diarista; loulou nuuuunca briga com o marido, simplesmente porque o marido é louco por ela, faz todas as suas vontades, nunca fica inconveniente quando bebe além da conta e todo mês manda um buquê pra ela e nas datas especiais, uma jóia: da Tiffany, óbvio. Loulou nunca fica brava com ninguém, porque tem tanta classe e elegância que está acima destas coisinhas pequenas. Roupas, só da Gregory ou de marcas renomadas, coisas baratinhas elas compram na Zara - em lojas como Renner, C&A, Marisa, elas nunca pisaram nem na porta! Maquiagem só MAC, of course, afinal é a melhor. E viagem é todo final de semana, em pousadas charmosas e badaladas.
Uai, Creuza, e por que ocê fala mal delas??? Eu é que queria ser loulou desse jeito, ora!
Rá, cara leitora, mas você não acha que algo está estranho? Afinal, elas são suas colegas de trabalho, de faculdade, pessoas que você encontra por aí, circulando no mesmo meio social que você... Pense comigo, cara amiga dona-de-casa, por que as loulou, poderosas desse jeito, estão aí almoçando no serve-serve com você? E de onde sai grana pra comprar só coisas boas e ainda pagar todas as contas em dia?
Óia, Creuza, é mesmo, né? Eu nem tinha percebido... 
Ora, jovem tola, é aí que entra a incrível habilidade loulou de criar uma sub-matrix! Senão, vejamos: loulou é sua colega de trabalho, ganha parecido com você, não nasceu em berço de ouro nem casou com o príncipe, não é linda e maravilhosa nem tem QI de gênio... Como ela consegue ter uma vida tão incrível? Marido apaixonado, viagens, roupas e produtos caros, habilidades incríveis na cozinha, ser profissional de ponta, disputada no mercado? É simples: tudo isso é um mundo mágico, uma invenção, uma personal matrix criada pela loulou pra passar uma imagem de Kate Middleton quando na verdade ela é tão Creuza quanto você. Um super-poder comumente conhecido como "comer pepino e arrotar caviar". Rá, pegadinha do malandro! E você quase caiu, não é, Creuza amiga?
Pior que é... mas bem que achei estranho aqueles 5 dedos de raiz no cabelo dela, mas pensei que era moda!
Mas não fique triste, amiga... As loulous costumam enganar muita gente (inclusive os maridos...). Sempre tem umas loulouzetes ao redor, achando liiinda e cor-de-rosa a vida da "amiga", com os olhinhos brilhando de inveja boa, torcendo pra um dia ter uma vida assim tão perfeita, sonhando com o dia que o Zé que elas namoram vire um príncipe feito o marido da loulou. Tsc, tsc, quando caem em si, a loulou fugiu com o Zé, e ainda levou o cartão de crédito e a bolsa da Victor Hugo que a loulouzete parcelou em 12x... 
Ah, mas isso não vem ao caso, né? Estamos aqui para admirar a habilidade loulou de sub-matrixar a matrix e blá-blá-blá...
Mas só uma coisinha, amiga Creuza, uma dica esperta pra você guardar como um patuá afasta-loulou: quem nasce Lady Kate (ou se torna, com tinturas Márcia 8.13) não vira Duquesa de Cambridge castanho natural, JAMÁS!

PS - este post foi mais uma sugestão da Ana, amiga Creuza versada nas artes de descobrir loulous onde menos se espera (e onde mais se espera também).